O grande mestre da arquitetura moderna está em plena
atividade.
Texto: Thais Otoni
O que escrever sobre Oscar Niemeyer?
Um dos arquitetos mais admirados da atualidade e um dos grandes nomes da
arquitetura mundial tem uma obra extensa, prêmios diversos e continua, aos 103
anos, em plena atividade. Falar sobre sua vida e obra daria um livro – aliás, vários
já foram escritos, um deles inclusive pelo próprio Oscar -, mas vamos tentar
resumir em poucas páginas a grandiosidade que ele representa.
Considerado um inovador nas formas
arquitetônicas, Oscar é um dos precursores da arquitetura moderna. Impossível
não notar em suas obras linhas curvas que se tornaram praticamente uma marca
registrada. Entre os inúmeros projetos que assinou ao longo de seus 79 anos de
carreira (ele iniciou a vida profissional em 1932, quando ainda era estudante,
no escritório dos arquitetos Lucio Costa e Carlos Leão), Brasília provavelmente
é o mais lembrado. Na lista de obras famosas pode-se citar ainda o Conjunto
Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte; a sede das Nações Unidas em Nova
York, em conjunto com Le Corbusier; o Conjunto do Ibirapuera, Memorial da América
Latina e edifício Copan, em São Paulo; o Sambódromo do Rio de Janeiro e o Museu
de Arte Contemporânea (MAC) em Niterói. Em Campinas, é dele o projeto do
Edifício Itatiaia, no Centro, que tem a frente reta e a traseira ondulada.
Há, no momento, alguns projetos de
Niemeyer em andamento ou que devem sair do papel em breve. Em dezembro de 2010,
o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou que a Marquês de Sapucaí
retomará o traçado original desenhado pelo arquiteto há quase 30 anos. Em
Niterói, seis construções, entre elas o MAC, integram o Caminho Niemeyer, um
conjunto arquitetônico em construção à beira-mar. Agora, a cidade deve receber
mais obras. A prefeitura anunciou que serão construídos 15 pórticos de vigilância
projetados por Niemeyer. A ideia é que funcionem nos locais postos policiais. O
traçado é um arco alongado em concreto branco e três modelos já foram
entregues.
Confira a seguir a entrevista
concedida pelo arquiteto à Revista Obra&Arte.
Obra&Arte - Hoje, como é sua rotina de trabalho? Com que
frequência vai ao escritório?
Oscar Niemeyer - Continuo a trabalhar
ininterruptamente. Hoje em dia passo a maior parte da manhã em casa pensando em
meus projetos novos, desenhando, lendo ou escrevendo. Vou ao meu escritório, em
Copacabana (Rio de Janeiro), todos os dias, de segunda a sexta. Almoço e chego
em torno de 13h30; fico entretido com as minhas tarefas do dia até as 19h30,
pelo menos. Dificilmente saio do escritório antes desse horário, cabendo
registrar que às terças-feiras vou até bem mais tarde com as aulas de Filosofia
e Cosmologia a que venho assistindo há uns seis anos.
Obra&Arte - Quais são os novos projetos em andamento, pode
adiantar alguns?
Oscar Niemeyer – São muitos e bem diversos. Vou
lembrar tão somente um “palácio das artes” para um município importante do
Estado do Rio de Janeiro, uma igreja adventista do sétimo dia em Pernambuco, um
centro administrativo e um conjunto de esculturas para o Caminho Niemeyer, em
Niterói.
Obra&Arte - Como é o processo de criação de um novo projeto?
Oscar Niemeyer – Em meu escritório sou o único
arquiteto in charge. Realizo sozinho os projetos iniciais e confio o seu
desenvolvimento ao escritório dirigido por meu amigo, o arquiteto Jair Valera,
e minha neta Ana Elisa. Costumo redigir uma explicação necessária, em
que esclareço as minhas intenções e o caminho como cheguei à solução
arquitetural desejada.
Obra&Arte - O que o inspira para o trabalho?
Oscar Niemeyer – A minha vontade, o meu desejo
permanente de criar a surpresa arquitetural. Para mim, arquitetura é invenção.
Obra&Arte - Alguma vez pensou em parar, se aposentar?
Oscar Niemeyer – Jamais. A arquitetura me convoca
todo o tempo.
Obra&Arte - Não podemos negar que todos ficam impressionados
com o fato de o senhor estar trabalhando aos 103 anos. Qual é o segredo?
Oscar Niemeyer – Segredo... Sou um livro aberto.
Sou movido por aquele desejo de criar obras diferentes, capazes de emocionar,
de provocar surpresa por sua novidade. Pode ser que esse ânimo me mantenha
muito ativo. Seja como arquiteto, seja como editor da revista Nosso Caminho,
sob a minha responsabilidade e a da Vera, minha esposa.
Obra&Arte - Quando surgiu a vontade de ser arquiteto? Quais e
quem foram suas influências no início da carreira?
Oscar Niemeyer – Foi o desenho, o gosto pelo
desenho que me levou à arquitetura. E essa propensão se apresentou quando era
menino. È claro que aprendi muito com a turma que atuava no escritório de Lucio
Costa. Mas não houve influência direta sobre o meu trabalho; talvez nem mesmo a
de Le Corbusier, a quem admirava quando era bem jovem. Desse arquiteto guardo
sobretudo a sua frase – mais que reveladora: arquitetura é invenção. E eu
próprio não hesito em repeti-la.
Obra&Arte – Como o senhor mesmo cita, trabalhou com Lucio
Costa, outro grande nome da arquitetura. Como era a convivência de vocês? E o
desenvolvimento dos trabalhos?
Oscar Niemeyer – Foi uma ótima convivência – do
seu escritório localizado no edifício de “A Noite” até a fase muito intensa da
construção de Brasília, cabendo sempre lembrar o papel do Lúcio como o autor do
seu Plano Piloto.
Obra&Arte – E trabalhar com Le Corbusier, como foi? Ele o
influenciou em suas obras?
Oscar Niemeyer – Não guardo muito boas lembranças
dos contatos que tivemos em Nova York. Tudo, aliás, bem esclarecido em meu
livro “Minha arquitetura”, várias vezes reimpresso pelo meu amigo e editor
Renato Guimarães.
Obra&Arte – Como foi receber os convites para obras que se tornaram grandes marcos da arquitetura?
Oscar Niemeyer – Foram convites maravilhosos, que
me permitiram disseminar a arquitetura brasileira no exterior. Na França e na
Itália, sobretudo, recebi o maior apoio. E mais recentemente vale destacar o
convite que recebi para projetar um centro cultural em Avilés, na Espanha. Os
espanhóis foram fantásticos, revelando uma atenção e um respeito com relação a
meu projeto fora do comum.
Obra&Arte – Com tantas obras, o senhor tem alguma que considera
sua “menina dos olhos”?
Oscar Niemeyer – Sempre evito responder a perguntas
dessa espécie. Afinal, não me faltam projetos que me agradam, que me deram
muitas alegrias. Antigos e recentíssimos, realizados no meu país – a começar
pelas obras de Pampulha – e no exterior, como o da Espanha.
Obra&Arte – Como o sr. avalia a arquitetura atual?
Oscar Niemeyer – A arquitetura de hoje continua a
me surpreender. São muitos os arquitetos de valor. E agrada-me sempre tomar
ciência de que eles estão sabendo explorar as potencialidades ilimitadas do
projeto, de que esses problemas não temem seguir, com liberdade, a sua intuição
criadora.
(Entrevista publicada na Edição Especial de Aniversário da Revista Obra&Arte, em 2011)
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